Pensar, conhecer e realizar - Narrativas (Auto)Biográficas e Educação - por Jorge Luiz da Cunha
11 Outubro, 2019
O que nos interessa nesta reflexão, sobre o papel educativo das narrativas (auto)biográficas, resulta de uma crítica ao exercício estrutural da linguagem, com o objetivo apenas de convencimento dos ouvintes, através da multiplicação de acessos estimulados pelas mídias virtuais.
Falar de si, narrar interpretações sobre a realidade, mas, também, ouvir o outro, deixar-se desnaturalizar e estranhar pelos argumentos alheios é um exercício educativo com eficiência de formação política humana: - elogiar e criticar, defender e acusar, persuadir e dissuadir, não é e não deve ser apenas considerado como exercício de convencimento dos outros.
Por vincular-se ao conhecimento comum que significa nossas existências neste mundo na relação que estabelecemos com outros sujeitos cidadãos, dialeticamente buscamos sustentar argumentos em nossas narrativas. Expressões fundamentadas em nossas memórias sobre experiências pessoais e coletivas, portanto, (auto)biográficas. Mas, na estratégia de ser ouvidos por aqueles com quem buscamos dialogar reconhecemos versões opostas, críticas, diferentes. Um exercício que faz da narrativa (retórica) uma dialética de reconhecimento de si, possível pelo reconhecimento do outro. Neste contexto, a contribuição das narrativas (auto)biográficas para a formação e educação, encontra-se: - na interpretação do papel da linguagem na expressão do reconhecimento da realidade material; - na significação formal da realidade constituída pela intervenção humana; - na avaliação da eficiência do resultado da ação humana no mundo real; e, - na função para o qual existimos, agimos e vivemos como causa final de nossa consciência e realização. Transformações associadas à influência do pensamento e das narrativas (auto)biográficas e explicadas diante da redefinição da motivação da ação no mundo a partir da consciência histórica da trajetória humana.
Escolas e universidades surgiram no passado histórico, relacionadas com este fundamento formativo do humano, ancoradas na plena liberdade de produção e reprodução do conhecimento como forma de resistência autônoma diante de poderes terrenos locais. Um sustentáculo a tese de que o conhecimento e sua narrativa é expressão do processo de plenificação do humano.
Narrar é expressar sentimentos, sempre (auto)biográficos, para criar expressões de si que nos aproximam de outros ?não idênticos? e nos ajudam a legitimar nossa autonomia e liberdade, fundamentos de nossa realização e consciência.
O objetivo da reflexão, expressa neste texto, sobre os conceitos e apropriações práticas educativas das narrativas (auto)biográficas, não está somente associado a recuperação (ainda que parcial) das vinculações entre narrativas (auto)biográficas e educação. É motivada pela experiência pessoal relacionada com a produção teórico-metodológica de vários colegas pesquisadores, e docentes da educação básica e universitária no Brasil, que atuam no campo da pesquisa (auto)biográfica e estrategicamente contribuem para a qualificação de processos educativos em todos os níveis. Todos contribuem efetivamente para a reformulação de conceitos e práticas no campo da educação, escolar e não escolar, de grande importância por seus efeitos sociais e políticos. Todos eles associam suas pesquisas com a plausibilidade empírica das narrativas de si, longe de um caráter apelativo, identitário e reprodutivo de modelos conceituais que mais produzem antagonismos sociais do que possibilidades de transformação das limitações que vivenciamos no presente. Todos eles reafirmam as necessidades da interpretação crítica das experiências educativas e da qualificação dos processos de formação através da história contada, da vida narrada e consequentemente significada.
A memória da produção histórica, empírica e teórica, relacionada com as narrativas e (auto)biografias é uma necessidade para legitimar a produção científica atual e as práticas educativas em todos os níveis, a ela relacionadas. Pois, esta é uma expressão da atribuição de sentidos para o ?Eu? e o ?Outro?. Isto é, processos inter- e transculturais de interpretação e significação das semelhanças e diferenças - nunca como possibilidades apenas positivas ou ameaças identitárias - mas como garantia da preservação social, política, estética do que somos: - sujeitos em permanentes processos de formação e que alcançam prazer, alegria e felicidade na convivência como práxis de construção de unidade igualitária na diversidade reconhecida como valor humano.