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Pensar, Conhecer e Realizar - Educação do tempo presente e a Paidéia grega - por Jorge Luiz da Cunha

A concepção de Paidéia grega, criada a dois mil e quinhentos atrás, tinha como objetivo a formação integral do homem para a vida em sociedade. Isto é, tratava da educação do homem para prestar "serviços" e para a manutenção da sociedade, ou seja, a história da educação sempre foi vista como ligada aos valores e crença de cada sociedade.

Portanto, toda a educação é resultado de uma vasta história que envolve inúmeros aspectos, que perpassam vários tempos e contextos. Estes, podem ser tempos de normas que conduzem determinadas sociedades e comunidades, familiares, da profissão, da classe, ou até mesmo de ordem maior, como o Estado. Mas, que, também, devem ser reconstruídos a cada novo momento.

A educação, portanto, nos apresenta uma ideia clara de que o ser humano deve se construir a partir do que lhe mova, do que lhe pareça ético, justo e bom. Para que isso possa acontecer é fundamental a relação dialógica que possibilita trocas com outros. Ação que ressalta que a educação proposta pela Paidéia dos gregos visa a realização plena do ser humano, num sentido essencialista:  - "Torna-te o que és".

Em um aspecto mais amplo, essa ideia fundamenta teórica e empiricamente um conceito e uma práxis de educação onde a ética e o idealismo devem andar juntos de mãos dadas, uma vez que esta é uma base sólida para a construção de uma educação igualitária, justa e digna para todos, fundamentando sua realização plena no mundo.

No pensamento grego, relacionado com a educação, pode-se encontrar também a preocupação com a política (nunca ideológica, religiosa e partidária!), com a qual a formação do sujeito humano está intimamente ligada: - se não houver o conhecimento e significação da experiência real e material da existência individual e social do sujeito humano, não há educação.

Portanto todos os processos educativos, escolares e não escolares, somente produzem resultados aceitáveis, como decorrência da relação com o social. A educação não advém de conhecimentos que resultam da conexão da nossa alma com o mundo das ideias, mas sim, todo o conhecimento se origina da experiência do sensível, ou seja, perpassada pelos sentidos. Se somos éticos, políticos e estéticos alcançamos a alternativa de nos tornar pessoas plenas. Educar é proceder o desenvolvimento humano, humanizar, criar e formar para a cidadania, a educação para viver bem junto de outros na sociedade.

A vida político-social é uma experiência formativa, que reconhece as diferenças de todos os que dela participam, determinada pela consciência de que a ação individual dialogicamente associada à ação de outros (mesmo diferentes) é uma estratégia de construção social. Sendo assim, a educação é uma forma de libertação.

Somente possível se as pessoas agem de forma organizada e conjunta, em que valores como ética e justiça estejam ligados a um bem maior, e neste processo a base sempre é a forma dialógica entre sujeitos em formação e sujeitos formadores - educadores.

No que diz respeito a educação formal, em espaços escolares, a preocupação associa-se a forma como os conteúdos são transmitidos e utilizados entre os sujeitos em formação - alunos e estudantes. Não se acredita em uma educação de fórmula acumulativa, ou de conteúdos fixos. Mas, em um aprendizado de estrutura flexível e dialógica entre o sujeito que aprende e o que ensina. Onde o conhecimento já produzido e historicamente registrado sirva de estimulante matéria-prima para a reflexão, crítica, criação e produção de novos conhecimentos objetivos e subjetivos.

Com isso, é possível perceber que a forma de ensinar também é algo que perpassava o sujeito, levando em conta a sua realidade e o seu meio, e aspectos que estejam intimamente ligados a todos os sujeitos. A Paidéia diante do pensamento socrático grego associa-se a conceitos subjetivos e práxis objetivas de criação de condições, não somente de preservação do humano individual e coletivo, mas de sua consciente evolução associada a formação, auto-formação; comportamento individual e social; moral e ético. O humano é, portanto, reconhecido como um ser capaz de produzir conhecimento, e assim, desenvolver a sua livre humanidade, garantindo sua realização e felicidade.