Metodologias Ativas na Educação - Os livros de história do futuro II - por Max Franco
25 Abril, 2020
Relata o evangelho que Jesus foi torturado e crucificado em virtude de fake news.
Isso mesmo: os posts nas redes sociais e as mensagens de WhatsApp do período versavam sobre como ele, o Nazareno, queria deflagrar um golpe contra Roma e se tornar o Rei dos Judeus. Tudo - logicamente - inventado, patrocinado e impulsionado pelos fariseus, que eram os "cidadãos de bem" da época (Jesus gostava de apelidá-los gentilmente de "sepulcros caiados" !). Para completar o kit fake news da maldade, ainda fizeram a caveira do filho do carpinteiro entre as massas, que acabou sendo preterido no lugar de um conhecido facínora chamado Barrabás. É o poder das narrativas, fazendo estragos há milhares de anos. Hoje não poderia ser diferente.
Eu estudo os discursos faz anos. É a atividade à qual mais me dedico já faz tempo. Dou aulas e ministro treinamentos em diversas latitudes do país, tenho dezenas de textos, uma dissertação de mestrado e alguns livros que tratam desse tema. Nessa lida, fico sempre impressionado como os fatos podem ser maquiados, esticados, deformados, reformados, demonizados, divinizados, lustrados, modificados, por fim, customizados para atenderem às postulações ideológicas de cada um. As narrativas são construídas com o intuito de sustentar ideologias. Quem conta uma história, geralmente, conta por algum motivo. A coisa, o fato, a ocorrência é só a matéria-prima para a construção de um discurso. O nazismo e o fascismo, por exemplo, tinham como bases certas narrativas. Elas são fundamentais para que existam adesões. São as histórias que convencem. Por isso, são tão poderosas.
Mesmo ciente de tudo isso, mesmo estudando as narrativas há três décadas, mesmo sendo um profissional do discurso, eu fico perplexo com o que fazem com os acontecimentos atuais. É inacreditável como o certo pode se tornar errado e como o errado, dependendo do foco, do tratamento da imagem, da construção do texto, pode ser encarado como certo. É um fenômeno que desafia qualquer ciência.
Não obstante, é essencial que, hoje-mais-do-que-nunca, se diga: à parte dos recursos retóricos, a Verdade existe. Mesmo encoberta e escondida, mesmo debaixo de camadas e camadas de fake news, dados incorretos, mentiras deslavadas e teorias patrocinadas, a Verdade existe.
O problema é que ela é uma pedra preciosa que precisa de ser escavada, encontrada e polida para ser reconhecida e valorizada.
Em outras palavras, acumular conhecimento dá trabalho. Alcançar a Verdade exige esforço, bom senso e disciplina.
Precisamos relevar as superfícies para revelar as essências.
A Verdade não está nas beiras, nem nas capas, nem nas cascas.
É isso: a Verdade precisa ser descascada.
- Conhecimento é filho de conhecimento e pai de mais conhecimento.