Educando Positivamente - Acolhimento: a conexão começa aqui - por Gabriela Menezes de Camargo
20 Fevereiro, 2020
O ano letivo sempre começa repleto de expectativas. Expectativas das famílias que depositam na escola a confiança de estar deixando seus filhos em um local seguro e que contribuirá para sua formação como cidadão, expectativa dos alunos que não veem a hora de saber qual será a sua turma, quem serão os professores, como será a organização das aulas e quantas novidades haverão para o novo ano, e também com uma grande expectativa dos professores, que retornam pós-férias com muitas ideias, com a mente e o corpo descansados e com o desejo de ter um excelente ano, torcendo para que seja possível realizar um trabalho produtivo e que possibilite atingir todos os objetivos elencados para o ano vigente.
Além de minhas aulas no IBFE, sou professora de uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental da rede pública de Campinas. Nesse ano iniciei o trabalho em uma nova escola e chegar em uma nova escola costuma nos encher de expectativas sobre quem serão os novos colegas de trabalho, quem serão os novos alunos e como será a interação com essas novas famílias, afinal quando uma escola recebe um aluno ela recebe também uma família.
Pensando em toda essa expectativa, quero compartilhar uma experiência que tive em meu primeiro dia de aula no ano de 2020. Neste dia, eu me sentia feliz, esperançosa e até com um certo frio na barriga. Me dispus a fazer daquele dia o melhor primeiro dia de aula que eu já havia vivido até então.
Fui para a escola e ao chegar na porta da sala de aula vi muitos olhares aflitos, muitos sorrisos contidos, notei algumas famílias preocupadas, algumas crianças envergonhadas, outras muito à vontade e uma delas agarrada às pernas da mãe, com os olhos marejados. Naquele momento pensei em uma palavra que pudesse me ajudar a cumprir aquilo que me dispus a fazer e a palavra que me veio à mente foi: ACOLHIMENTO.
Busquei acolher cada criança recebendo-a com um grande sorriso, desejando boas-vindas e deixando-a escolher onde se sentia mais à vontade para sentar, tentei acolher as famílias tirando dúvidas rápidas sobre o horário de saída, o material escolar e dizendo aos pais que podiam ir pra casa em paz, pois seus filhos estavam em um local seguro. Quando me aproximei da criança agarrada às pernas de sua mãe ela entrou em desespero e aos berros pediu: "Não me deixe mãe, não me deixe, por favor, não me deixe...". A mãe não sabia o que fazer e eu tentando manter o controle emocional, pensava em acolhimento. Pedi a mãe que deixasse a criança, e que fosse embora, disse em caso de urgência ligaríamos para ela. Ambas estávamos com o coração apertado e ela com lágrimas nos olhos me entregou aquela criança e saiu aos prantos. Eu peguei em sua pequena mão, a levei para dentro da sala de aula, a coloquei em meu colo até que se acalmasse, orientando que respirasse e dizendo calmamente que quando ela conseguisse se acalmar nós iriamos conversar. Ela se acalmou, eu lhe ofereci água, conversamos alguns minutos e houve a necessidade de explicar por diversas vezes que em breve a mãe voltaria. Propus a ela fazermos uma cartinha de saudade e nesta a ajudei a escrever o que ela gostaria de dizer à mãe. A mensagem foi: "Mãe, me senti triste e fiquei preocupada!", ilustrada com o desenho de uma criança com muitas lágrimas escorrendo.
Naquela manhã juntamente com a turma, fizemos brincadeiras de quebra-gelo, dinâmicas para conhecer um ao outro e na hora de ir embora, essa criança me deu um abraço e um beijo afetuoso e saiu com um sorriso no rosto. A mãe, com o coração mais tranquilo, me agradeceu com um olhar e com um sorriso singelo.
No dia seguinte essa criança veio à escola, se despediu da mãe com um sorriso e disse a ela: "Daqui a pouco você volta né, mãe!" e eu com os olhos marejados e o coração grato, a recebi com um sorriso no rosto desejando boas-vindas para aquele novo dia.
Naquele dia pude cumprir minha missão, pude acolher corações, pude estabelecer com aquelas crianças e com aquelas famílias uma conexão e posso dizer que tive o melhor primeiro dia de aula que eu já tinha vivido até então.
É tempo de acolher, é tempo de florescer!