Prática Pedagógica - Sonhos e Profissão: O que fazer com a vida que circula na sala de aula? - por Heloísa Proença
Prática Pedagógica
14 Novembro, 2018
O que fazer com a vida que circula na sala de aula? Formação Humana Sensível: qual nossa responsabilidade?
Você já pensou em quantas "vidas" perpassam a história de um Educador ao longo de sua jornada profissional? Já refletiu sobre o quanto somos responsáveis por muita coisa que acontece por aí, mundo afora? Em algum momento teve consciência de que você educador poderá ser lembrado por uma dessas "vidas" por muitos anos (20, 30, 40, mais de 50 anos!!!!)? Tem ideia do tamanho da sua responsabilidade?
Para começar a nossa conversa desta semana preciso te contar um episódio. Navegando numa rede social, dou de cara com a postagem de uma pessoa querida e ex-aluna. Isso foi na sexta-feira passada (09/11), por volta de quinze horas. E eu estava justamente preparando o texto da coluna para conversar com você. Veja o que ela postou e o que eu comentei:
Letícia Peressinoto
Ao me reunir com a mãe de uma das crianças, ela me contou que eles (mãe e filho) oram todas as noites juntos e ele sempre pede para ?Deus cuidar da vida da professora?! E de final de semana fica ansioso para chegar o dia de ir para a escola.? Essas coisas parecem tão pequenininhas, mas aquecem tanto o meu coração...
Heloísa Martins Proença
Querida, não são pequenininhas! Pense comigo, estamos num tempo em que as pessoas estão perdendo a sensibilidade e a humanidade que nos constitui. A violência virou o comum e o sensível o bizarro. Então, nosso papel de formar sujeitos sensíveis na Educação Básica fica ainda mais importante. Fundamental eu diria!!!! Quando você desenvolve um trabalho como professora que aflora o sensível das crianças, isso não pode ser pequeno. Vai muito além do seu coração aquecido. Essa criança, que torce para que você seja cuidada, cuidará de todos aqueles que estiverem por perto dela ao longo da vida. E isso transforma o mundo de várias pessoas!!!! De novo: NÃO É PEQUENO. E também não é só pra você. É para o mundo!!!!!!!!!
Nosso compromisso com a formação sensível para uma prática de vida humanizada, na Educação Básica, é muito grande. Precisamos prestar atenção nas respostas que recebemos dos estudantes. Elas podem ser singelas ou não, mas estão lá. Quando investimos numa prática sensível os resultados aparecem. E o contrário também é verdadeiro.
Educar para respeitar e para formar comportamentos humanos desejáveis, ou seja, de respeito, partilha, solidariedade, generosidade, amorosidade com as pessoas e suas culturas, são aprendizados para a vida e não para fazer uma prova ou responder a uma questão num exercício mecânico.
O trabalho pedagógico precisa formar para a vida!
Conhecimentos desconectados da vida poucos sentidos produzem no processo de ensino. É preciso refletir sobre saberes conectados com as práticas sociais reais, aquelas que fazem parte do cotidiano humano. Precisamos produzir um processo de ensino em que os conhecimentos que circulem sejam aqueles presentes nas práticas que vivemos. Uma matemática que esteja conectada com a vida, e o mesmo para as ciências, as línguas, as artes, as atividades físicas, as geografias, as histórias...
Na escola precisamos formar pessoas para que tenham comportamentos desejáveis, ou melhor, que o respeito ao homem e a cultura seja sempre um objetivo educacional.
Como fazer isso?
Compartilho com você algumas práticas que sempre estiveram presentes nas minhas escolhas educacionais e, no meu ponto de vista, colaboram para uma formação mais humanizada:
1. A Roda de Conversa: o diálogo é fundamental para a formação das pessoas. Precisamos aprender a dialogar compreendendo que as opiniões podem divergir e que não precisamos que todos pensem da mesma forma. Dialogando exercitamos a comunicação oral e suas regras, aprendemos sobre conceitos importantes de comunicação linguística, mas também aprendemos sobre as pessoas e suas culturas. A roda de conversa possibilita um aprendizado curricular conectado com a vida. É uma prática pedagógica que pode ser exercitada com qualquer etapa da escolaridade, da Educação Infantil ao ensino acadêmico.
2. A leitura literária diária: ler é uma ação que precisa estar presente nas práticas escolares. Ler bons textos, conhecer diferentes gêneros, exercitar a compreensão na leitura e suas multiplicidades. A literatura, em especial, possibilita ao leitor ir além do texto. Abre-lhe um universo de possibilidades para pensar, refletir e imaginar situações variadas da cultura e da vida que colaboram para o exercício do pensamento e da compreensão. Quando lemos um texto literário, praticamos a possibilidade de várias formas de entendimento. Essa diversidade linguística amplia a formação de cada sujeito. Aprendemos sobre a língua e toda sua complexidade.
3. A escrita de opinião: é preciso emitir opinião sobre as coisas. Muito mais do que dizer gostei, não gostei, é legal, não é legal, é necessário argumentar, explicar, deixar claro o porquê de um argumento e não de outro. Na educação escolar os estudantes precisam exercitar opinar sobre os diferentes assuntos, mas sempre justificando o que pensam. Podemos oferecer esse potente exercício ao pedir que os estudantes escrevam sobre uma brincadeira vivenciada, um livro lido individual ou coletivamente, um conceito de ciências ou de história estudado e assim por diante. O importante é que a opinião esteja sempre acompanhada de pelo menos um argumento.
4. A partilha das produções para um auditório social: nas práticas escolares atuais, a maioria das produções dos estudantes ficam guardadas em suas próprias anotações. Não são compartilhadas. É preciso produzir uma escola que comunique as aprendizagens. Os estudantes precisam de um auditório social no cotidiano e não apenas nas Feiras de Ciências. Produzir com finalidade de comunicação real. Para comunicar o que aprenderam a outras turmas, aos pais, para divulgar nas redes sociais da escola, para fazer um vídeo e assim por diante.
Em todas essas práticas pedagógicas o principal exercício é o da partilha de saberes e opiniões próprios, na consonância com saberes e opiniões de outras pessoas, mas sempre na relação com os conceitos curriculares de responsabilidade da Educação Básica. Aprender, mas principalmente exercitar a escuta e o respeito aos outros.
Vamos nos desafiar produzir práticas mais sensíveis nas nossas escolas????