Música, Neurociência e Aprendizagem - As influências das músicas que ouvimos no cotidiano

09 Janeiro, 2017
As influências das músicas que ouvimos no cotidiano
Constantemente sou abordado, por conta da minha formação em música e psicologia, por pessoas que querem saber se a música que ouvimos no cotidiano, através das mídias, podem interferir nos nossos processos cerebrais, influenciando as nossas escolhas ou interferindo em nosso humor. Também ouço o questionamento se o fato de uma criança ouvir letras violentas ou eróticas pode influenciá-la ou deixa-la vulnerável a esse tipo de conteúdo. Sobre esse assunto, de forma simples e didática, quero escrever minha linha de raciocínio.
Em primeiro lugar, não posso afirmar que toda criança, adolescente ou adulto que entre em contato com letras de músicas, violentas ou eróticas, serão influenciados por elas, levando-os a situações éticas ou morais incompatíveis com os modelos aceitos na sociedade. Porém, posso afirmar que existem pesquisas científicas na área de neurociência que demonstram que os assuntos abordados pelas músicas que ouvimos permanecem circulando por nossos pensamentos por horas, às vezes dias, e dependendo do nível de prazer que sentimos, a letra pode ficar por meses circulando entre os nossos pensamentos. As imagens que esses assuntos geram estarão presentes por um bom período de tempo em nosso cérebro, podendo influenciar nossas decisões. Não quero falar sobre qualidade musical, pois esse termo depende muito do ponto vista. O que é chamado de "qualidade" entre os leigos musicais, tem muito mais a ver com gosto pessoal do que com estruturas técnicas musicais. Portanto, o meu raciocínio está diretamente ligado ao conteúdo da letra musical.
O grande problema na escuta musical está na "identificação social" através da música. Isso acontece quando a música une uma grande quantidade de pessoas que se sentem representadas por um estilo musical. Isso normalmente acontece quando um grande número de seres se sentem sem voz ativa para participar das decisões de uma sociedade. Cito como exemplo os adolescentes que se sentem representados pelo rock, que lhes dá voz, com suas letras rebeldes, para exprimir toda força interior e indignação que sentem ao viver numa sociedade que valoriza o ser adulto, e que vê o adolescente como apenas um aprendiz, sem experiência para opinar. Um outro exemplo é o rap, que dá voz a toda um grupo de pessoas que se sentem abandonadas pelo Estado, e se sentem às margens das decisões sociais. Para esses grupos, as canções terão o poder de lhes influenciar, reforçando suas decisões. Mas, preste muita atenção, esse reforço pode ser positivo desde que o conteúdo da letra seja uma solução para a questão social. Um rap que fale para o indivíduo não se deixar abater pela desigualdade social e caminhar em frente em busca de seus sonhos, estará reforçando o lado positivo da situação, porém, o contrário também é verídico, um rap que fale sobre violência como a única forma de solução da situação, estará reforçando o lado negativo dela.
A música sempre terá o poder de influenciar os pensamentos, cabe aos pais, professores e a todo ouvinte musical, escolher letras musicais que possam influenciar o lado positivo da situação. Um rock que fale sobre quebrar barreiras e ir adiante, um rap que fale sobre lutar, de forma pacífica, por seus direitos, são exemplos de que a música pode e deve ser usada com a finalidade de despertar boas atitudes. Por tudo isso: Viva a música!